quinta-feira, março 31, 2011

TPM em 4 Fases


Qualquer semelhança não é coincidência!

Fase 1 – A Fase Meiguinha
Tudo começa quando a mulher começa a ficar dengosa, grudentinha.
Bom sinal? Talvez, se não fosse mais do que o normal.
Ela te abraça do nada, fala com aquela vozinha de criança e com todas as palavras no diminutivo.
A fase começa chegar ao fim quando ela diz que está com uma vontade absurda de comer chocolate.
O que se segue, é uma mudança sutil desse comportamento, aparentemente inofensivo, para um temperamento um pouco mais depressivo.


Fase 2 – A Fase Sensível
Ela passa a se emocionar com qualquer coisa, desde uma pequena rachadura em forma de gatinho no azulejo em frente à privada, até uma reprise de um documentário sobre a vida e a morte trágica de Lady Di.
Esse estágio atinge um nível crítico com uma pergunta que assombra todos os homens, desde os inexperientes até os mais escolados como o meu pai.
– Você acha que eu estou gorda?
Notem que não é uma simples pergunta retórica.
Reparem na entonação, na escolha das palavras.
O uso simples do verbo "estou" ao invés da combinação "estou ficando", torna o efeito da pergunta muito mais explosiva do que possamos imaginar.
E essa pergunta, meus amigos, é só o começo da pior fase da TPM.
Essa pergunta é a linha divisória entre essa fase sensível da mulher para uma fase mais irascível.


Fase 3 – A Fase Explosiva
Meus amigos, essa é a fase mais perigosa da TPM.
Há relatos de mulheres que cometeram verdadeiros genocídios nessa fase.
Desconfio até que várias limpezas étnicas tenham sido comandadas por mulheres na TPM.
Exagero à parte, realmente essa é a pior fase do ciclo tepeêmico.
Você chega na casa dela, ela está de pijama, pantufas e descabelada.
A cara não é das melhores quando ela te dá um beijo bem rápido, seco e sem língua.
Depois de alguns minutos de silêncio total da parte dela, você percebe que ela está assistindo aquele canal japonês que nem ela nem você sabem o nome.
Parece ser uma novela ambientada na era feudal.
Sem legendas...
Então, meio sem graça, sem saber se fez alguma coisa errada, você faz aquela famosa pergunta: "Tá tudo bem?"
A resposta é um simples e seca: "Tá", sem olhar na sua cara.
Não satisfeito, você emenda um "Tem certeza?", que é respondido mais friamente com um rosnado baixo e cavernoso "teenhoo.".
Aí, como somos legais e percebemos que ela não tá muito a fim de papo, deixamos quieto e passamos a tentar acompanhar o que Tanaka
está tramando para tentar tirar Kazuke de Joshiro, o galã da novela que...
– Porra, viu!? – ela rosna de repente.
– Que foi?
A Fase Explosiva acaba de atingir o seu ápice com essa pergunta.
Sem querer, acabamos de puxar o gatilho.
O que se segue são esporros do tipo:
– Você não liga pra mim! Tá vendo que eu to aqui quase chorando e você nem pergunta o que eu tenho!Mas claro! Você só sabe falar de você mesmo! Ah, o seu dia foi uma merda?O meu também! E nem por isso eu fico aqui me lamuriando com você! E para de me olhar com essa cara! Essa que você faz, e você sabe que me irrita! Você não sabe! Aquele vestido que você me deu ficou apertado! Aaaai, eu fico looooouca quando essas coisas me acontecem! Você também, não quis ir comigo no shopping trocar essa porcaria! O pior de tudo é que hoje, quando estava indo para o trabalho, um motoqueiro mexeu comigo e você não fez nada! Pra que serve esse seu Jiu-jitsu? Ah, você não estava comigo? Por que não estava comigo na hora? Tava com alguma vagabunda? Aquela sua colega de trabalho, só pode ser ela. E nem pra me trazer um chocolate! Cala sua boca! Sua voz me irrita! Aliás, vai embora antes que eu faça alguma besteira. Some da minha frente!
Desnorteado, você pede o pinico e sai.
Tenta dar um beijinho de boa noite e quase leva uma mordida.

Fase 4 – A Fase da Cólica
No dia seguinte o telefone toca.
É ela, com uma voz chorosa, dizendo que está com uma cólica absurda, de não conseguir nem andar.
Você vai à casa dela e ela te recebe dócil, super amável.
Faz uma cara de coitada, como se nada tivesse acontecido na noite anterior, e te pede pra ir à farmácia comprar um Atroveran, Ponstan ou Buscopan pra acabar com a dor dela.
Você sai pra comprar o remédio meio aliviado, meio desconfiado.
"O que aconteceu?", você se pergunta.
"Tudo bem". Você pensa. "Acho que ela se livrou do encosto".
Pronto! A paz reina novamente.
A cólica dobra (literalmente) a fera e vocês voltam a ser um casal feliz.
Pelo menos até daqui a 20 dias...

terça-feira, março 29, 2011

Hoje...



"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Fui ser feliz, e não volto".

 (Caio Fernando Abreu)

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“Um dia de monja, um dia de puta, um dia de Joplin, um dia de Tereza de Calcutá, um dia de merda enquanto seguro aquele maldito emprego de oito horas diárias para poder pagar essa poltrona de couro autêntico onde neste exato momento vossa reverendíssima assenta sua preciosa bunda e essa exótica mesinha de centro em junco indiano que apóia vossos fatigados pés descalços ao fim de mais uma semana de batalhas inúteis, fantasias escapistas, maus orgasmos e crediários atrasados. “

C.F.A

Carta Anônima

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você.
Mais detardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira
assentada aos poucos e com mais força enquanto a noite avança.
Não são pensamentos escuros, embora noturnos. Tão transparentes
que até parecem de vidro, vidro tão fino que, quando penso mais
forte, parece que vai ficar assim clack! e quebrar em cacos, o
pensamento que penso de você. Se não dormisse cedo nem estivesse
quase sempre cansado, acho que esses pensamentos quase doeriam
e fariam clack! de madrugada e eu me veria catando cacos de vidro
entre os lençóis. Brilham, na palma da minha mão. Num deles, temuma borboleta de asa rasgada. Noutro, um barco confundido com alinha do horizonte, onde também tem uma ilha. Não, não: acho que ailha mora num caquinho só dela. Noutro, um punhal de jade. Coisasassim, algumas ferem, mesmo essas que são bonitas. Parecem filme,livro, quadro. Não doem porque não ameaçam. Nada que eu pensode você ameaça. Durmo cedo, nunca quebra. Daí penso coisas bobasquando, sentado na janela do ônibus, depois de trabalhar o diainteiro, encosto a cabeça na vidraça, deixo a paisagem correr, epenso demais em você. Quando não encontro lugar para sentar, oque é mais freqüente, e me deixava irritado, descobri um jeitoengraçado de, mesmo assim, continuar pensando em você. Meseguro naquela barra de ferro, olho através das janelas que, nessaposição, só deixam ver metade do corpo das pessoas pelas calçadas,e procuro nos pés daquelas aqueles que poderiam ser os seus. (A teus pés, lembro.). E fico tão embalado que chego a me curvar, certoque são mesmo os seus pés parados em alguma parada, algumaesquina. Nunca vejo você - seria, seriam? Boas e bobas, são ascoisas todas que penso quando penso em você. Assim: de repente aodobrar uma esquina dou de cara com você que me prega um susto dementirinha como aqueles que as crianças pregam umas nas outras.Finjo que me assusto, você me abraça e vamos tomar um sorvete,suco de abacaxi com hortelã ou comer salada de frutas em qualquerlugar. Assim: estou pensando em você e o telefone toca e corta omeu pensamento e do outro lado do fio você me diz: estou pensandotanto em você. Digo eu também, mas não sei o que falamos emseguida porque ficamos meio encabulados, a gente tem muito pudorde parecer ridículos melosos piegas bregas românticos pueris banais.Mas no que eu penso, penso também que somos meio tudo isso, nãotem jeito, é tudo que vamos dizendo, quando falamos no meupensamento, é frágil como a voz de Olívia Byington cantando Villa-Lobos, mais perto de Mozart que de Wagner, mais Chagal que VanGogh, mais Jarmush que Win Wenders, mais Cecília Meireles queNelson Rodrigues.Tenho trabalhado tanto, por isso mesmo talvezando pensando assim em você. Brotam espaços azuis quando penso.No meu pensamento, você nunca me critica por eu ser um poucotolo, meio melodramático, e penso então tule nuvem castelo seda perfume brisa turquesa vime. E deito a cabeça no seu colo ou vocêdeita a cabeça no meu, tanto faz, e ficamos tanto tempo assim que aterra treme e vulcões explodem e pestes se alastram e nós nempercebemos, no umbigo do universo. Você toca minha mão, eu tocona sua.Demora tanto que só depois de passarem três mil dias consigoolhar bem dentro dos seus olhos e é então feito mergulhar numaságuas verdes tão cristalinas que têm algas na superfície ressaltadascontra a areia branca do fundo. Aqualouco, encontro pérolas. Sei queé meio idiota, mas gosto de pensar desse jeito, e se estou em pé noônibus solto um pouco as mãos daquela barra de ferro para meucorpo balançar como se estivesse a bordo de um navio ou de você.Fecho os olhos, faz tanto bem, você não sabe. Suspiro tanto quandopenso em você, chorar só choro às vezes, e é tão freqüente. Caminhomais devagar, certo que na próxima esquina, quem sabe. Não tenho tido muito tempo ultimamente, mas penso tanto em você que na hora de dormir vez emquando até sorrio e fico passando a ponta domeu dedo no lóbulo da sua orelha e repito repito em voz baixa te amo tanto dorme com os anjos. Mas depois sou eu quem dorme e sonha, sonho com os anjos. Nuvens, espaços azuis, pérolas no fundodo mar. Clack! como se fosse verdade, um beijo.
                                                                                                                                                      C.F.A

segunda-feira, março 28, 2011

...que seja doce

"Então, que seja doce.
Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim, que seja doce.
Quando há sol, e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo; repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante.
Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder.
Tudo é tão vago como se fosse nada."
                                                        C.F.A

...



Não, não ofereço perigo algum: sou quieta como folha de outono esquecida entre as páginas de um livro, definida e clara como o jarro com a bacia de ágata no canto do quarto - se tomada com cuidado, verto água límpida sobre as mãos para que se possa refrescar o rosto, mas se tocada por dedos bruscos num segundo me estilhaço em cacos, me esfarelo em poeira dourada.
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Caio Fernando Abreu